terça-feira, 31 de julho de 2012

Flores murchas

Aquele casarão sempre exerceu sobre mim um fascínio muito grande. Algo me atraía àquele local, uma força misteriosa me conduzia até lá.

Através do portão de ferro, observava os velhinhos tomando banho de sol, quando se aproximou de mim uma simpática senhora. Usava um lenço na cabeça e carre-gava um pequeno balde com água. Cumprimentou-me e exaltou minha juventude. Começamos a conversar como velhas amigas e convidou-me para entrar. Falava de plantas, da vida no asilo e lembrava-se do que fazia quando tinha a minha idade.

Aproximadamente um metro e meio de altura, um pouco corcunda, a pele engelha-da, corpo delgado, braços e pernas finas, unhas sujas de terra, passo leve e arras-tado; nariz grosso, boca acanhada, a pele, sem elasticidade, formava inúmeras rugas e muitas delas conduziam à porta de acesso à mente mais brilhante que conheci. Os olhos eram carregados de lembranças e cercados de marcas do tem-po e as pálpebras pesadas, em vão, tentavam cerrá-los.

Levou-me para conhecer suas flores prediletas. Percebi que algumas já haviam murchado, perguntei por que não as arrancava e esse foi o meu pecado. Ela res-pondeu que aquelas flores eram semelhantes a ela, velhas, com a diferença que eram tratadas com carinho até secarem completamente e caírem.

Com ela aconteceu o que acontece com a maioria das flores murchas, são arran-cadas e jogadas para longe, onde não possam macular a beleza do canteiro. Co-meçou a narrar-me sua história e contou-me de quando fora arrancada de perto das flores maduras e fora atirada para longe, onde encontrou outras flores mur-chas que não enfeitavam nem perfumavam mais os ambientes, mesmo que ainda lhes restasse a cor.

Fiquei sem palavras diante de tamanho desprezo. Ao perceber que minhas lágri-mas caíam sobre algumas pétalas, acalentou-me e, mostrando um botão, falou sobre a responsabilidade que eu tinha de formar boas sementes, para que sejam flores sadias e quando murchas, sirvam de exemplo, mostrando a todos a beleza que esconde as flores murchas e o tesouro que há entre pedúnculos encurvados e pétalas engelhadas. E fez-me prometer que jamais abandonaria uma pessoa por sua velhice. Além disso, prometi também jamais abandoná-la.


Maria Cleide Andrade Ximenes


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