domingo, 5 de agosto de 2012

“CONFISSÃO DE FÉ, DE PEDRO E OS TRÊS ANÚNCIOS DA PAIXÃO EM MARCOS” AGOSTO 2012

A profissão de fé, de Pedro (Mc 8,27-30), o primeiro anúncio da paixão (8,31-33), o segundo (9,30-32) e o terceiro (Mc 10,32-34) encontram-se numa moldura, entre duas narrativas de cura de cegos. No início, a cura do cego de Betsaida (Mc 8,27-26). Não tem nome nem sobrenome. Quem é o cego, ou de fato, são os cegos? São os discípulos, cuja cura é difícil e acontece parcialmente na primeira tentativa. Só na segunda vez, quando Marcos revela o poder iluminador de Jesus e mostra os seus esforços para abrir os olhos dos discípulos, eles conseguem enxergar nitidamente. A cura é lenta e gradual. Mostra que as pessoas, e os próprios discípulos, têm dificuldade de ver quem é realmente, Jesus de Nazaré. Entre esta narrativa do cego de Betsaida e o cego Bartimeu, filho de Timeu, encontra-se a Profissão de fé de Pedro, e os três anúncios da Paixão.

A profissão de fé de Pedro é uma resposta à pergunta, que está na base da primeira parte do evangelho de Marcos: quem é Jesus de Nazaré? Por causa do seu ensinamento e dos prodígios que realiza (Mc 6,2), o povo não consegue definir a personalidade misteriosa de Jesus. Para uns é João Batista, para outros Elias e para outros, um dos profetas. Apenas Pedro consegue definir a verdadeira identidade de Jesus “Tu és o Cristo” e não por ele mesmo, mas em virtude de uma revelação divina, conforme Mateus 16,17. O fato de Jesus proibí-lo de falar a respeito, não significa nenhuma desaprovação em relação ao título de Cristo, que ele vai aceitar mais adiante, em Mc 14,62. Em Marcos o título de Cristo, de Filho de Deus e outros, estão incluídos na norma do silêncio, são expressões da fé da Igreja (Mc 1,34; 1,44). Marcos insiste no segredo messiânico de Jesus. Para compreendermos esta sua postura, é preciso ter presente: a ambiguidade dos títulos messiânicos judaicos, insuficientes para definir a missão de Jesus como também, os progressos da fé da Igreja primitiva e o empenho de Marcos em reler a vida terrestre de Jesus, à luz da revelação da Páscoa.

Logo após a profissão de fé de Pedro, Jesus faz o seu primeiro anúncio da paixão: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias ressuscitar” (Mc 8,31-33). Pedro reage ao anúncio de Jesus, porque tem dificuldade de associar o título de Cristo às perspectivas da paixão e morte. Jesus o repreende, chamando-o de satanás, porque ele não pensa as coisas de Deus e sim as dos homens. Na verdade, Pedro, ao se opor ao padecimento de Jesus, ele assume o papel de Satanás, que tenta desviar Jesus da obediência ao Pai. E, ao mesmo tempo, abandona a sua posição de discípulo, que deve caminhar atrás de Jesus (cf. 1,17.20; 8,34). Este texto do primeiro anúncio da paixão, é o início da segunda parte do Evangelho segundo Marcos, que tem a preocupação de responder à pergunta: Quem é o verdadeiro discípulo de Jesus? Marcos coloca a seguir, as condições do seguimento de Jesus (Mc 8,34).

No segundo anúncio da paixão, Jesus afirma que: “O Filho do Homem será entregue às mãos dos homens e eles o matarão e, morto, depois de três dias ressuscitará” (Mc 9,30-32). Diante desse anúncio, a atitude dos discípulos é novamente de incompreensão e medo. No caminho pela Galileia até chegar em Cafarnaum, os discípulos discutiam entre si sobre qual era o maior dentre eles. Novamente o centro, o foco está neles mesmos e não no anúncio de Jesus. Eles encontram dificuldade para compartilharem do destino com o seu Mestre.

Jesus faz o terceiro anúncio da sua paixão, no caminho para Jerusalém: “Eis que subimos para Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos escribas; eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios, zombarão dele e cuspirão nele, o açoitarão e o matarão, e três dias depois ele ressuscitará” (Mc 10,32-34). Não há comentários à este anúncio, mas a cena que segue, revela uma grande incompreensão de dois discípulos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, pedem um lugar à sua direita e outro à esquerda no reino dos céus. A postura deles dá a entender que eles têm concepção política do messianismo de que um dia Jesus triunfará e ocupará o trono de “glória”. Eles querem assegurar para si nessa hora, os dois primeiros lugares, de mando e de honra. Jesus dá instruções aos seus discípulos, no sentido de que a comunidade do Messias rege-se por princípios opostos aos do mundo. Nela a ambição deve ser substituída pelo espírito de serviço. Não é que o serviço seja meio para conseguir o primeiro lugar, mas que no serviço reside a dignidade.

O cego, à saída de Jericó (Mc 10,46-52), fecha a moldura, que enquadra a narrativa da profissão de fé de Pedro e dos três anúncios da Paixão. O cego agora tem nome, carrega uma identidade, fez um caminho, sentiu-se chamado por Jesus. Pela fé, o cego recebe de Jesus o dom da visão recuperada. Nele cumprem-se as profecias: “verão a glória do Senhor... abrir-se-ão os olhos dos cegos” (Is 35,5; 42,7.18). Bartimeu, “segue” imediatamente Jesus, que o mandara “chamar”. Faz um itinerário exemplar, de fé e iluminação, de chamado e seguimento. É a experiência que se confirma na vida dos discípulos, que abandonaram Jesus, viveram suas crises de fé, foram fortalecidos na aparição de Jesus aos 11, segundo Marcos: “eles saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio de sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).


Algumas perguntas que podem ajudar na reflexão:


  • Qual é a realidade que os meus “olhos” se negam a ver, no meu convívio com as pessoas?
  • Qual é o medo que me impede de tomar iniciativas?
  • Na minha profissão de fé em Jesus, com qual título eu o invoco? O que ele significa para mim?

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