Certa vez ouvi alguém dizer que o ser humano poderia ser comparado a uma casa. Então me vi a imaginar essa "morada" que é cada um de nós...
Pensei em uma casa com alicerce, vários cômodos - alguns mais abertos para as pessoas, outros mais íntimos e reservados - e até mesmo com um porão. Casa com janelas que podem abrir-se ou fechar-se,
revelando ou escondendo o que há dentro.
Casa com portas que permitem ou impedem a passagem.
Casa construída sobre terreno que não é comprado nem escolhido, mas herdado.
Às vezes é terreno plano, amplo, com boa água e bonita vista.Às vezes é íngreme, cheio de pedras, isolado, pequeno. Mas é o nosso terreno, é ali que precisamos fazer morada.
Vamos construindo aos poucos, durante a vida inteira: um tijolo aqui, um remendo ali, uma parede a mais, uma varanda a menos,
um terraço que dá para o céu...
Queremos sempre os mais belos materiais.
Pode ocorrer, porém, só termos papelão e zinco, não as "pedrinhas de brilhante"
que tínhamos desejado...
Vamos cimentando certezas, mas às vezes precisamos equilibrar-nos sobre escadas ainda inseguras. Cultivamos com cuidado, anos a fio, um jardim de sonhos e alegrias.
De repente vem a tempestade, que, de nossas flores, deixa só pétalas no chão...
De dentro da nossa morada, observamos os que passam. Alguns nem olham e seguem em frente, outros entram e mexem em tudo. Uns, ainda, fazem dali verdadeiro lar... Todas essas visitas, as passageiras e as definitivas, vão deixando suas marcas na casa: um risco na parede, um lindo enfeite, um cigarro apagado, uma grande reforma...
E assim vamos nos fazendo: belas ou bizarras, amplas ou acanhadas,
arejadas ou cheias de mofo, abertas ou fechadas, acolhedoras ou inóspitas:
misteriosas casas humanas...
Sim, misteriosas: porque a morada humana pode abrigar muitos segredos!
Tesouros secretos... Quinquilharias inúteis... Coisas estragadas, perdidas, que precisam ser jogadas fora: até mesmo rosas vermelhas, que antes enfeitavam a sala, e agora, já murchas, apodrecem nos vasos...
Pode haver riquezas inesperadas, álbuns de recordação, troféus e medalhas das competições de infância...
Venenos podem estar se espalhando e contaminando todo o ambiente.
Talvez haja antigas coleções de figurinhas, cartas do primeiro amor...
Lembranças... esperanças... frustações... sonhos...
Tânia Resende
Referência: Casas ao sol
Pensei em uma casa com alicerce, vários cômodos - alguns mais abertos para as pessoas, outros mais íntimos e reservados - e até mesmo com um porão. Casa com janelas que podem abrir-se ou fechar-se,
revelando ou escondendo o que há dentro.
Casa com portas que permitem ou impedem a passagem.
Casa construída sobre terreno que não é comprado nem escolhido, mas herdado.
Às vezes é terreno plano, amplo, com boa água e bonita vista.Às vezes é íngreme, cheio de pedras, isolado, pequeno. Mas é o nosso terreno, é ali que precisamos fazer morada.
Vamos construindo aos poucos, durante a vida inteira: um tijolo aqui, um remendo ali, uma parede a mais, uma varanda a menos,
um terraço que dá para o céu...
Queremos sempre os mais belos materiais.
Pode ocorrer, porém, só termos papelão e zinco, não as "pedrinhas de brilhante"
que tínhamos desejado...
Vamos cimentando certezas, mas às vezes precisamos equilibrar-nos sobre escadas ainda inseguras. Cultivamos com cuidado, anos a fio, um jardim de sonhos e alegrias.
De repente vem a tempestade, que, de nossas flores, deixa só pétalas no chão...
De dentro da nossa morada, observamos os que passam. Alguns nem olham e seguem em frente, outros entram e mexem em tudo. Uns, ainda, fazem dali verdadeiro lar... Todas essas visitas, as passageiras e as definitivas, vão deixando suas marcas na casa: um risco na parede, um lindo enfeite, um cigarro apagado, uma grande reforma...
E assim vamos nos fazendo: belas ou bizarras, amplas ou acanhadas,
arejadas ou cheias de mofo, abertas ou fechadas, acolhedoras ou inóspitas:
misteriosas casas humanas...
Sim, misteriosas: porque a morada humana pode abrigar muitos segredos!
Tesouros secretos... Quinquilharias inúteis... Coisas estragadas, perdidas, que precisam ser jogadas fora: até mesmo rosas vermelhas, que antes enfeitavam a sala, e agora, já murchas, apodrecem nos vasos...
Pode haver riquezas inesperadas, álbuns de recordação, troféus e medalhas das competições de infância...
Venenos podem estar se espalhando e contaminando todo o ambiente.
Talvez haja antigas coleções de figurinhas, cartas do primeiro amor...
Lembranças... esperanças... frustações... sonhos...
Tânia Resende
Referência: Casas ao sol
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