A união feliz de um casal existe a partir de diversos sentimentos positivos, como amor, companheirismo e doação recíproca. Nela é, ainda, importante uma vida sexual saudável e plena. “A sexualidade não é qualquer coisa de puramente biológico, mas refere-se antes ao núcleo íntimo da pessoa. O uso da sexualidade como doação física tem a sua verdade e atinge o seu pleno significado quando é expressão da doação pessoal do homem e da mulher até à morte” – revela o documento Sexualidade humana: verdade e significado, do Conselho Pontifício para a Família, da Igreja Católica. Por isso, entende-se que amor e sexo são, no casamento, duas parcelas que somadas resultam em um equilíbrio fundamental para formar a felicidade do casal. E conclui-se que o ato sexual tem componentes que transcendem o contato físico que une dois corpos. Nele, antes de um ato procriativo, há um homem e mulher que atingem a plenitude do amor e se tornam uma única carne. Não é – ou ao menos nunca deveria ser – algo pagão ou desprovido de uma forte carga espiritual.
Tratar da sexualidade sob um viés religioso ou mesmo ético requer cuidado, pois o campo é minado por tabus e preconceitos. Historicamente, a sociedade sempre teve dificuldades em lidar com o tema, oscilando do 8 ao 80 em pouco tempo. Se até a década de 1960 sexualidade era sinônimo de repressão, após o que se convencionou chamar de “revolução sexual”, as mudanças do costumes levaram a alguns exageros. Moralismos a parte, explora-se o corpo da mulher para vender de tudo. Decididamente, não foi para isso que as feministas do passado tanto lutaram... “Hoje, as pessoas falam muito sobre sexo, mas não com o valor que ele tem. Faz parte da sexualidade observar e conhecer o próprio corpo, ter prazer com a pessoa amada, mas isso ficou banalizado” – enfatiza Ângela Elisete Herrera, terapeuta de casal e família.
Discutindo a relação – Uma sexualidade sadia, inclusive do ponto de vista cristão, é aquela que beneficia as duas pessoas. Caso contrário, o ato sexual pode se tornar uma prática boa para um, mas não para o outro. Ou então levar a algum transtorno sexual, que é a dificuldade de se relacionar sexualmente com o outro – confira no box. Na mulher, segundo a terapeuta Ângela, alguns transtornos podem se relacionar com a afetividade. “Se a esposa não se sente amada e querida, ou mesmo se tem um marido agressivo, dificilmente ela terá uma vida sexual saudável. Poderá produzir, inconscientemente, os sintomas orgânicos como uma forma de manter distância desse parceiro” – explica. Mas algumas causas das podem surgir antes do casamento. “Em geral, muitas pessoas trazem esses problemas antes de se casarem. As experiências vividas em família e alguns traumas adquiridos em relacionamentos anteriores geralmente são levados para dentro do casamento” – lembra André Luís Kawahala, da Pastoral Familiar de Osasco (SP). “Há, ainda, os casos que surgem pós-casamento, depois de traumas severos, ou após o período da gravidez, ou em situações de sério conflito conjugal geradas por problemas como a desilusão ou o desemprego, principalmente para os homens” – completa.
Dentro de um casamento, a falta de tempo para marido e mulher ficarem juntos por causa da formação da nova família e da correria cotidiana podem motivar uma falta de sintonia sexual. “A chegada dos filhos não é o problema, mas é que muitas vezes os casais passam a viver somente para a família e esquecem da vida a dois” – afirma Ângela. E quando há esse distanciamento, a sexualidade perde a sua importância. “Os casais devem parar para avaliar a relação. Muitos não dizem que se amam há muito tempo, mas isso é importante e deve ser cultivado” – aconselha a terapeuta. “Se existe um compromisso de amor há sempre uma tentativa de diálogo e de busca de solução” – afirma André.
Ajuda profissional – Parar, conversar e se entender. Assim são resolvidos os problemas a dois, inclusive no campo sexual, para se evitar um mal maior. As consequências de um transtorno sexual na vida de uma casal que não busca soluções costumam ser negativas. Segundo André, a situação piora quando se trata de casais sem a firmeza de um compromisso de amor conjugal. Surgem culpas, acusações, baixa autoestima e até relacionamentos fora de casa. “O sofrimento de ambos muitas vezes é insuportável e suas consequências estendem-se até mesmo depois da separação” – esclarece. Ele lembra ainda que, quando os casais realmente se amam, ambos sofrem, mas se esforçam na ajuda mútua. “Há casos em que o cônjuge sadio resolve, por amor, ter uma vida de privação sexual” – afirma.
Não há dúvida que, para manter o casamento e o amor, marido e mulher devem sempre assumir suas dificuldades, inclusive na sexualidade, juntos. “Quando a esposa ou o marido apresentam queixas na sexualidade, a solução deve ser buscada pelos dois. Não dá para desvincular a questão da sexualidade da relação a dois” – registra Ângela. O ideal mesmo é procurar profissionais idôneos que ajudem o casal a encontrar as causas de seus problemas sexuais, sejam eles orgânicos ou psicológicos. “É preciso avaliar como foi o início da relação ou até mesmo, o que aconteceu antes dela, no relacionamento com outros pares ou na própria família de origem” – afirma a terapeuta. “Em algumas regiões e dioceses, a Pastoral Familiar oferece ajuda de aconselhamento e a possibilidade de um atendimento através de profissionais especializados. São os Centros de Atendimento Familiar ou SOS Família” – informa André.
Coisas de casal
Ângela Elisete Herrera, terapeuta de casal e família, orienta que, ao sinal de alguma disfunção sexual, os casais façam uma terapia para trabalhar a questão emocional e, em seguida, avaliem sua saúde do ponto de vista físico. Terapeutas, psicólogos, urologistas ou ginecologistas são os profissionais que podem ajudar. Algumas das disfunções sexuais mais conhecidas são:
Na mulher
Frigidez
A falta de desejo sexual feminino pode estar ligada a problemas psicológicos ou orgânicos. No segundo caso, pode advir de alguma descompensação hormonal, debilidade física ou uso de medicamentos, hipertensão arterial, alcoolismo ou tabagismo.
Anorgasmia
A falta de orgasmo é a disfunção sexual mais comum junto com a frigidez. Pode ter fatores biológicos ou psicológicos, como deficiência feminina em assumir o papel erótico, medo de engravidar, traumas relacionados ao sexo.
Vaginismo
É a contração involuntária dos músculos próximos à vagina que impossibilitam o ato sexual ou o tornam muito doloroso.
Dispareunia
É a dor durante o ato sexual. Pode ser conseqüência de uma infecção por fungos, que causa irritação e sensação de ardor na vagina.
No homem
Impotência
Também chamada disfunção erétil. É a dificuldade de obter a ereção. Ainda que ocasionalmente seja gerada por questões psicológicas, em 80% dos casos ela tem origem em um má vascularização. Pode ser conseqüência de uma aterosclerose (formação de placas de gordura nas paredes das artérias), tabagismo, diabetes, hipertensão arterial ou hiperlipidemia (excesso de gorduras no sangue). Como pode ser prenúncio de uma doença séria (derrame, infarto etc), o homem deve visitar o médico. É dever da companheira convencer seu parceiro dessa necessidade.
Ejaculação precoce
A maioria dos terapeutas sexuais entendem a ejaculação precoce como a dificuldade de controlar a ejaculação, que interferindo com o bem-estar sexual ou emocional de um casal. Em certos casos, o descompasso é provocado pelo fato de a mulher necessitar de mais tempo para atingir o orgasmo. Na maioria das vezes, é causa pela ansiedade.
Rosângela Barboza*
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