Este blog não tem o objetivo de ser mais um site católico, e sim ser um blog onde podemos compartilhar nossas idéias, orações e testemunhar a ação de Deus em nossas vidas.
Uma das coisas boas da vida começa com o prefixo “re”: reencontro, porque nele temos a possibilidade de relembrar fatos anteriores que marcaram nossa história. É o somatório daquilo que já foi bem vivido com a vida presente. Todavia, os fatos ocorridos, no primeiro encontro, é o que marca a nossa vida e se torna referência para o nosso futuro.
Isso mexe com nossos afetos; com isso, vamos nos descobrindo, percebendo ações e reações que, antes, não notávamos. Temos a alegria de nos conhecer ainda mais para sermos melhores. É a vida nos reapresentando a nós mesmos: autoconhecimento.
É salvífico descobrir que, ao olhar para nossa história, podemos reescrevê-la, reordenando nosso passado para o amor e, por meio dele, escrever uma nova história com outros personagens e fatos marcantes, mas sempre seremos e precisaremos ser o protagonista da nossa vida, assumi-la com toda responsabilidade para vivermos um recomeço, uma reinauguração daquilo que somos.
O recomeço acontece quando olhamos a nossa vida de outra forma ou, quem sabe, com outros olhos. O segredo de uma boa retomada é tirar o foco dos problemas, daquilo que não deu certo e aprender com eles novas possibilidades para uma vida nova. Sempre aprendemos com as situações difíceis e com elas aprendemos a reescrever uma nova história.
São justamente as possibilidades que nos levam a realizar determinadas atitudes a fim de resolvermos os nossos problemas.
“Jesus tem o dom de nos fazer olhar para outra direção, tirando o foco daquilo que não deu certo para o que pode dar”
Jesus tem o dom de nos fazer olhar para outra direção, tirando o foco daquilo que não deu certo para o que pode dar. Algumas vezes, precisamos ser radicais ou severos com nós mesmos para sairmos da condição de fracassados e viver o recomeço: a escrita de um novo capítulo da nossa vida. Jesus não toma essa atitude por nós, Ele nos convida a sair dela. O esforço é nosso, o convite à solução vem d’Ele.
Os personagens que participam da nossa história nos ajudam a enxergar melhor a nossa vida para tirarmos um bem maior daquilo que não deu certo. Viver bem o presente é ter um futuro bem sucedido.
Reencontrar, relembrar, reagir, reapresentar, recuperar, recomeçar, reinaugurar, realizar, resolver, reescrever, reconciliar: todas essas palavras são verbos, e verbo indica uma ação. Viver também é uma ação. E não há como praticá-las se não exercitarmos a ação maior de viver.
O convite de Jesus é simples e claro: chama-nos a reagir, a recomeçar a nossa vida a partir da nossa reconciliação com a nossa história. Jesus tem o poder de ressuscitar os mortos mesmo quando estes ainda estão vivos. Nós reagimos de maneira pessoal diante da ação de Jesus, e se a nossa reação for de reconhecimento da nossa verdade, pela Verdade maior acontece em nós a ressurreição: o recomeço de uma nova vida, pois Jesus é Aquele que faz nova todas as coisas, dá vida nova no lugar da velha.
A ação de Cristo é fazer com que nos reencontremos, fazendo enxergar vida onde aos nossos olhos só há morte. É nos reconhecermos pecadores, mas também filhos de Deus; é perdoar e amar a nós mesmos pelo fato de o Senhor nos ter perdoado e amado primeiro; é redescobrirmos que, a partir do nosso presente, apesar de termos errado há poucos segundos, podemos recomeçar a reescrever a nossa história.
Nós somos os protagonistas da nossa vida. Jesus é o diretor geral. Como todo filme tem um começo, meio e fim, a nossa vida também os têm. Ela já começou. Estamos no meio do filme, caminhando para o seu final. Mas nossa vida não é uma trilogia com fantasias e magias, muito menos um reality show. Ela é real, com diversas situações difíceis e complicadas, mas com a capacidade de alcançarmos vitórias, porque Deus sempre está presente nela.
Nós somos o redator da nossa vida, mas se seguirmos os passos do diretor, chegaremos à vitória, pois Ele tem um final feliz para cada um de nós: a felicidade eterna.
Quem não gosta de ir a uma loja, ao shopping ou até mesmo àquelas lojinhas de utensílios domésticos para adquirir coisas novas? A sensação de comprar algo novo é sempre prazerosa, mas pode tornar-se uma grande armadilha financeira, psicológica e até espiritual. Sem falar das festas cristãs como Natal e Páscoa, que se transformaram em datas de comércio.
Com a economia do Brasil a todo vapor, os brasileiros estão consumindo cada vez mais. Só o poder de compra da classe média cresceu de 44,19% para 51,89% nos últimos seis anos (dados da Fundação Getúlio Vargas); e este consumo não é só no território nacional, pois, segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT), as despesas dos brasileiros, no exterior, totalizaram US$ 16 bilhões (R$ 28 bilhões) em 2011.
“O consumo faz parte da vida humana, e a nossa qualidade de vida melhorou muito nos últimos anos”, diz Marco Antônio, filósofo e professor universitário. No entanto, o professor também nos aponta um problema: “Apesar de as pessoas estarem vivendo mais, eu vejo que a qualidade da vida psicológica piorou. Nós temos mais e melhores condições, mas parece que somos menos felizes”.
Jovens consumistas
Antigamente, o máximo que um jovem ganhava para o seu consumo era a mesada dos pais, que dava para comprar um tênis, um sapato ou um novo jogo de vídeo game. Mas os tempos mudaram. A geração de hoje invadiu o mercado de trabalho e passou a ganhar salários muito além de uma “mesada”. Com os novos serviços que facilitam a compra, somados às tão atraentes novas tecnologias e à publicidade das grandes marcas, essa galera passou a consumir como gente grande. Estima-se que as novas gerações Y e Z movimentem cerca de 2,5 bilhões de dólares por ano.
“Há alguns anos, o jovem não tinha o poder de compra que ele tem hoje”, diz o professor de publicidade e marketing Josué Brasil. Para ele, essa juventude consumidora é o alvo da publicidade de grandes marcas, pois “o jovem, uma vez fidelizado, passa a ser um consumidor em potencial no futuro e, para as empresas, isso é muito interessante”, diz Josué.
Quando falamos em jovens consumistas, o Brasil aparece no topo da lista. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que 37% dos jovens brasileiros gostam de comprar, um índice que coloca, no “chinelo”, jovens de países como França (32%), Japão (31%) e Estados Unidos (12%).
Será que sou viciado em compras?
Toda essa facilidade de consumo tem apresentado consequências desastrosas, pois cresce, de forma alarmante, o número de pessoas com transtornos compulsivos por compras, que se chama oneomania.
“Eu comprava, toda semana, até 3 ou 4 pares de sapatos e, muitas vezes, repetidos”, conta Aline Machado, professora na cidade de Roseira (SP). “Era um prazer muito grande chegar em casa com aquele monte de sacolas, mas, logo depois, vinha um vazio e eu me sentia triste e infeliz, apesar de ter as melhores roupas”, testemunhou Aline.
Segundo Paulo Henrique, psicólogo e professor da Universidade de Taubaté (SP), a compra compulsiva é apenas o sintoma de alguma questão mais profunda. “Geralmente, essas pessoas apresentam um quadro de ansiedade muito grande, e a compra é a única forma de preencher o vazio que elas estão sentindo”, explica o especialista.
Pessoas que sofrem de oneomania, geralmente apresentam distúrbios de humor, ansiedade excessiva e depressão. Em casos crônicos, quando elas se encontram impossibilitadas de comprar, podem ter sintomas como irritação, taquicardia, tremor e sensação de desmaio iminente. Logo após adquirir o que desejavam, essas mesmas pessoas sentem remorso por não ter controlado a compulsão e são acometidas pela depressão.
Consequências espirituais do consumismo
Na Missa do Galo de 2011, o Papa Bento XVI disse que “o Natal tornou-se uma festa de negócios, cujo fulgor ofuscante esconde o mistério da humildade de Deus”.
“O Compêndio da Doutrina Social da Igreja critica essa perversão do momento sagrado – e também humano – em momentos de consumo”, alerta padre Joãozinho, scj.
Não é de agora que o consumismo tem tomado lugar nas grandes festas cristãs, transformando-as em datas de comércio. Papai Noel, ovos de Páscoa, coelhos, duendes e muitos outros personagens foram – de forma orquestrada – ocupando o lugar dos símbolos religiosos e adentrando no imaginário coletivo de nossas crianças.
A consequência é que, muitas pessoas, ditas cristãs, estão trocando Cristo pelo comércio. Para muitos, a Páscoa está longe de ser a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus; e o Natal está longe de ser o nascimento de Cristo.
“Não há problema em se ter um ovo de Páscoa em casa, mas ele deve reesignificar o sentido dessa festa como um símbolo da vida nova que Cristo veio nos trazer”, conclui o sacerdote.
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o ato de consumir sugere a aquisição de bens de consumo, sendo que, do exagero dessa prática, vem o consumismo. Interessante como se amplia para o mesmo vocábulo os seguintes significados: enfraquecer, desgastar, mortificar, correr até a destruição. Talvez seja este o sentido literal para o termo consumir: destruição. Estudos indicam que se todos os países consumissem como os ricos, teríamos um colapso global, já que o planeta não suportaria tal demanda.
Nós jovens somos alvos desse contexto. Para nós está voltada a grande mídia, a qual cria uma cultura de busca pelo “ter” em detrimento do “ser”. O fascínio de possuir o carro do ano acalenta nossas mazelas temporariamente, porque logo aquilo perde o significado. Então, o mundo nos oferece algo novo e melhor. A euforia volta, mas passa; não alegra o coração. O círculo vicioso se infunde sem almejar plenitude, portando o egoísmo, a ganância, a violência, a frustação, a perca de referência, o desamor. A destruição.
Gosto muito das palestras do padre Léo. Sou jovem e cresci escutando o sacerdote nas manhãs de sábado; como muitos, fui cativado pela sua capacidade de apostolar um Jesus alegre. Em um de seus dizeres, comentava sobre o consumismo da maneira que lhe era peculiar. Relatava ele que gastar 700, 1 mil reais num par de tênis era ‘pecado mortal’.
Eu faço coro à voz do padre, que tem impactado a tantos mesmo após a sua morte. A valorização da casca reprime o conteúdo, tornando-o frágil e vazio. É projeto relativista da sociedade que desperta a torpe luta pelos prazeres, pelos ideais frouxos da tropa mais vigorosa: a juventude.
Certa vez, ouvi de um amigo na faculdade que as renúncias impostas pelo curso o impossibilitava de comprar roupas de grife e, até mesmo, de se esbanjar com refrigerantes ou refeições elaboradas. Acho que tudo tem a mão de Deus e ele faz as coisas certas. Coisas caras devem ser tratadas como extraordinárias.
Na matemática do Alto, dividir multiplica sonhos e sorrisos, os quais são mais gratificantes do que o passageiro encanto do “tênis da moda”, que não tem a capacidade de guiar nossos passos para o caminho do Senhor. Tal qual o mais potente dos automóveis não possui GPS para o Céu.
Seja o amor nosso sentido para que o destino do percurso encontre a Verdade e a Vida.
Muitos procuram explicar quem é Jesus. Os discípulos estão na barca em direção à outra margem. O dia está para terminar. “Passar para a outra margem” do lago Genesaré significa ir a outros povos (pagãos) para levar a eles a força da semente. Ser comunidade cristã é estar a caminho, e este é, muitas vezes, penoso e assustador.
Jesus participa da travessia cheia de perigos e conflitos, mas tem-se a impressão de que Ele, ao dar a ordem de passar para o outro lado, toma a iniciativa e precede os discípulos no embarque. O evangelista recorda que "havia outras barcas para ele", sinal de que não só a comunidade dos primeiros discípulos, mas as de todos os tempos e lugares são convocadas a atravessar.
A travessia é difícil e perigosa. Levanta-se um furacão no mar da Galileia, o qual sintetiza as forças geradoras do mal e hostis ao projeto de Deus. A cena toda possui caráter simbólico e catequético, ajudando a buscar, descobrir e superar todos os conflitos que emperram ou tentam sufocar o projeto de vida e liberdade, herança deixada por Jesus aos cristãos.
Em meio aos conflitos, as comunidades têm a sensação de que Jesus está alheio aos dramas e tempestades que as ameaçam. Ele está na parte de trás da barca e dorme sobre um travesseiro. Aos discípulos cabe a tarefa de remar, enfrentando o furacão. Daí a pergunta um tanto irônica dos discípulos: “Mestre, não te importas se vamos perecer?”
É um pouco a sensação dos que não acreditam, fortemente, na força que levam consigo no barco. De fato, as ordens de Jesus ao vento e ao mar: “Silêncio! Cale-se! E a consequente bonança obtida revelam quem Ele é.
Aplacar o mar e amansar suas ondas é, segundo o Antigo Testamento, prerrogativa exclusiva do Senhor. Em Jesus age Deus. Cristo tem o mesmo poder do Pai de reduzir ao silêncio e ao nada o que impede às comunidades cristãs a realização do projeto divino. Mais do que um Jesus taumaturgo, o Evangelho nos fala de Alguém a quem os cristãos precisam aderir plenamente, como condição única para realizar com sucesso a travessia. ”Por que são tão medrosos? Ainda não têm fé?”
Só os que, de fato, aderem plenamente ao Senhor é que poderão reconhecê-Lo como Filho de Deus.
No áudio abaixo você confere, na íntegra, esta entrevista
Neste dia 29 de junho a Igreja comemora o Dia do Papa por ocasião da Solenidade de São Pedro e São Paulo1. Para falar um pouco mais sobre a figura e o ministério do Sumo Pontífice o portal cancaonova.com entrevistou, por telefone, padre Demétrio Gomes2, sacerdote da Arquidiocese de Niterói (RJ), diretor espiritual do Seminário Arquidiocesano São José da mesma diocese e diretor do Instituto Filosófico e Teológico do referido seminário, onde leciona os cursos de Filosofia e de Teologia. O sacerdote também cursa o mestrado de Direito Canônico no Pontifício Instituto Superior em Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
cancaonova.com: Por que hoje é considerado o Dia do Papa?
Padre Demétrio: Hoje dia 29 de junho é considerado o Dia do Papa porque hoje nós celebramos o martírio destas duas colunas da Igreja Católica: São Pedro e São Paulo; e especialmente por ser o martírio de São Pedro nos focamos em seus sucessores, os Papas. Nós não sabemos a data exata desses martírios, mas se estima que tenha sido entre os anos 64 e 68, ou seja, na data do grande incêndio de Roma por Nero, sendo que no ano 68 foi o ano da morte deste imperador romano. No ano de 64 Nero, com a intenção de fundar uma nova cidade com o seu nome, incendiou a cidade romana e logo correu o boato de que teria sido o imperador que realizou esse incêndio, mas este [imperador] colocou a culpa nos cristãos e logo desencadeou-se uma grande perseguição contra estes. Uma lenda chamada "Quo Vadis" diz que Pedro (na época ele morava em Roma) tenta fugir com medo e mais uma vez abandonar o seu Senhor. Narra essa lenda que, ao já estar saindo da cidade de Roma, o apóstolo encontra novamente Nosso Senhor indo em direção a Roma e Lhe pergunta: "Senhor, aonde vais?" ("Quo vadis, Domine?") e o Senhor lhe responde: "Estou indo a Roma para ser outra vez crucificado" e Pedro logo percebe o recado que Nosso Senhor queria lhe dar, ou seja, que ele [Pedro] deveria sofrer o martírio pelo seu Senhor, o qual antes havia dado a vida por ele. Pedro então volta para Roma e é martirizado, pedindo para ser crucificado de cabeça para baixo porque se diz não ser digno de ser crucificado como o seu Senhor. E ali, em solo romano, Pedro derrama o seu sangue, que é semente para o crescimento da Igreja Católica.
cancaonova.com: Onde aparece na Sagrada Escritura o fundamento do poder de Pedro e dos seus sucessores, os Papas?
Padre Demétrio: Existem várias passagens da Escritura, no Novo Testamento, que narram o fundamento do poder de Pedro e seu primado, por exemplo: Mateus 16,16-19, onde aparece Jesus conferindo ao apóstolo a promessa do primado. Temos também Lucas 22, onde aparece a oração feita por Jesus a Pedro dizendo do seu papel com relação aos outros apóstolos. E o capítulo 21 do Evangelho de São João onde se confirma este primado de Pedro.
Podemos pegar a passagem do capítulo 16 de São Mateus, a partir do versículo 16, onde temos a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. E logo depois Jesus faz uma revelação a Pedro seguida de uma promessa: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
Podemos ver alguns elementos desta Palavra em que Jesus confere o poder ao apóstolo Pedro.
1º Vemos que só a Pedro Jesus chama de bem-aventurado: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu". E logo depois muda o nome de Simão para Pedro, e na Sagrada Escritura a mudança de nome implica uma nova missão, uma alteração de missão. A palavra Pedro vem do Grego "Petros" que é uma forma masculinizada do feminino "Petra", que significa Rocha; em aramaico se diz "Kepha", Pedro é a Rocha, fundamento sólido sobre o qual Jesus vai fundar a Sua "Ecclesia", a Sua Igreja que vai se tornar o novo povo de Deus. A Igreja é de quem? De Pedro? Não, a Igreja é de Cristo, ela é fundamentada sobre a rocha que é Pedro, mas a Igreja é de Cristo, Ele é o fundador.
2º "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus". Na Sagrada Escritura é preciso entender bem o contexto do termo "conferir as chaves". Trata-se de uma expressão rabínica que confere a Pedro toda responsabilidade sobre a casa de Deus aqui na terra. Jesus continua: "tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”, ou seja, implica toda autoridade doutrinal e disciplinar de Pedro sobre a Igreja. E a promessa toma muito mais força quando Jesus diz explicitamente que todos os atos de Pedro vão ser confirmados no céu. Este poder também foi dado aos Apóstolos em conjunto, ao que chamamos de "Colégio Apostólico". No entanto, Pedro tem este poder sozinho, por ele só. Este poder passa para os seus sucessores. Assim como os Bispos são sucessores dos Apóstolos, o Papa é o sucessor de Pedro. A palavra Papa, que nós usamos para chamar o sucessor de Pedro, é originária do grego e significa "Pai", e esses sucessores do primeiro Bispo de Roma são os Vigários de Cristo, ou seja, aqueles que atuam em nome de Cristo. Santa Catarina de Sena no Séc. XIV chamava o Papa de "O doce Cristo na terra".
cancaonova.com: Seria então o Santo Padre um líder religioso como os demais líderes da humanidade?
Padre Demétrio: O Papa é certamente um líder religioso, mas não como os demais líderes, porque, como nós vemos nas Sagradas Escrituras o Papa não está à frente da Igreja por ele mesmo, mas por um poder conferido pelo próprio Deus encarnado. Jesus Cristo escolhe um homem com suas limitações, com debilidades naturais, como Pedro, um rude pescador, provavelmente sem muita formação humana, covarde, porque nega o seu Senhor nos momentos de maior dificuldade, e provavelmente nega o seu Senhor à beira do seu martírio em Roma. E mesmo com essas fragilidades humanas Deus o escolhe para mais uma vez se confirmar aquilo que São Paulo dizia: "Deus escolhe os fracos para confundir os fortes". Por essa razão, o apóstolo Pedro não é um líder que está à frente da Igreja porque ele quer, porque houve uma votação democrática e votaram nele, mas porque é o próprio Deus que o escolhe para colocá-lo à frente de Sua Igreja e depois dele [Pedro] os seus sucessores, que são o fundamento visível da unidade da Igreja Católica. Seguir o Sumo Pontífice é a certeza de estar em comunhão plena com Cristo, por isso se diz que o Papa é fundamento visível da unidade.
cancaonova.com: Muitos criticam o Santo Padre dizendo que a Igreja precisaria rever alguns pontos para adaptar-se ao mundo moderno, aceitando a ordenação de mulheres, o casamento homossexual, a liberação do aborto, entre outros. Por que o Papa não pode mudar essas posturas?
Padre Demétrio: Essa é uma crítica comum não só dos tempos de hoje, mas de todos os tempos, ou seja, que o Papa precisa se abrir, que a Igreja é muito fechada, que a Igreja tem posturas medievais, que precisa se adaptar ao mundo moderno. Mas quem pensa assim não tem ideia de que o Papa não é o dono da Igreja, o Papa é o servidor de algo muito maior que o Senhor lhe confiou. O Papa é aquele que recebeu o depósito da fé ("Depositum fidei"), um conjunto de verdades que ele deve guardar e proteger. Ele é um servo da verdade, como o Papa Bento XVI escolheu como o seu lema: "Cooperadores da verdade", o Papa é um colaborador da verdade, ele guarda um tesouro que não é dele, que lhe foi confiado pela tradição que passou de séculos. Portanto, o Santo Padre não pode mudar esta verdade para adaptá-la ao mundo, como se isso fosse fazer com que ela [verdade] fosse bem quista pelos homens. Contudo, a verdade é única, ela não muda com o tempo. Por essa razão, o Sumo Pontífice não pode mudar a seu bel-prazer a verdade que lhe foi confiada por Cristo, ele não tem este poder, ele deve custodiar esta verdade ainda que venha a lhe custar a própria vida, como aconteceu com muitos Papas no início do Cristianismo.
cancaonova.com: Por que as pessoas não entendem isso?
Padre Demétrio: Isso é difícil de entender pelos homens de hoje, porque estes já não possuem fé. Para o homem moderno que não tem fé jamais lhe será possível entender a missão do Sumo Pontífice. Quem não tem fé não vai entender este poder que lhe foi conferido pelo próprio Cristo. Quem não tem fé não vai entender que o Papa tem assistência do Espírito Santo para proclamar, sem erro, aquilo que o Senhor lhe confiou como verdade. Portanto, um requisito indispensável para entender e amar a figura do Santo Padre é que nós tenhamos fé; quando o homem perde a fé ele perde a credibilidade que ele deveria dar à figura do Romano Pontífice, o Santo Padre.
cancaonova.com: O que poderíamos fazer de concreto para manifestar a veneração e a comunhão com o Santo Padre?
Padre Demétrio: Penso que um grande presente que poderíamos dar ao Santo Padre no dia de hoje e todos os dias seriam as nossas orações; todos os dias lembrar de rezar pelo Papa "o doce Cristo na terra". Oferecer por ele os nossos sacrifícios; na Santa Missa rezar por ele, também nas nossas orações pessoais lembrar dele e das suas intenções. Assim como os primeiros cristãos rezavam por Pedro quando ele estava no cárcere, também nós devemos acompanhá-lo [atual Papa] dobrando os nossos joelhos e rogando a Deus por tudo o que sofre hoje o Papa Bento XVI, as críticas dos homens, daqueles que não entendem a verdade de Cristo. Por outro lado, também devemos conhecer aquilo que o Santo Padre fala, porque ele é a garantia de estarmos em comunhão plena com Cristo. Portanto, conhecer os documentos que o Papa escreve, lê-los, estudá-los, ler e escutar as homilias do Santo Padre, ouvir os seus discursos e catequeses, acompanhá-lo pelo menos espiritualmente nas suas viagens apostólicas. Estar sempre em comunhão com o Papa é a garantia de estarmos em comunhão com Cristo; nós temos de também ajudar outros católicos para que caminhem seguindo os passos de Pedro aqui na terra, porque esta é a garantia de estarmos seguindo Cristo aqui na terra.
1Por questões pastorais, para uma participação mais expressiva do povo de Deus, a Igreja do Brasil, de acordo com as normas litúrgicas, transfere a Solenidade do martírio de São Pedro e São Paulo para o domingo
2Padre Demétrio Gomes também assessor do Setor Juventude da Arquidiocese de Niterói, e diretor espiritual do Grupo de Casais Famílias em Cristo. Membro da Sociedade Internacional Tomás de Aquino (SITA – Brasil), além de administrar o portal presbiteros.com, um site de grande referência na formação do clero católico.
Celebramos com alegria a solenidade litúrgica dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, uma festa que acompanha a história de mais de dois mil anos do povo cristão. Eles são chamados colunas da Igreja nascente. Testemunhas distintas da fé, eles expandiram o Reino de Deus com seus diversos dons e, no exemplo do Mestre divino, selaram com sangue sua pregação evangélica.
O martírio deles é sinal de unidade da Igreja, como disse Santo Agostinho: “Um só dia é consagrado à festa dos dois apóstolos. Mas também eles eram uma coisa só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, eram uma coisa só. Pedro precede, Paulo segue” (Disc. 295, 8: PL 38, 1352).
Do sacrifício de Pedro são sinais eloquentes a Basílica Vaticana e esta Praça, tão importantes para o cristianismo. Também do martírio de Paulo restam traços significativos na nossa cidade, especialmente a Basílica a ele dedicada na Via Óstia. Roma traz escrito na sua história os sinais da vida e da morte gloriosa do humilde pescador da Galiléia e do apóstolo dos povos, que justamente os escolheram como Protetores.
Fazendo memória ao luminoso testemunho deles, nós recordamos o início venerável da Igreja que em Roma crê e prega o anúncio de Cristo Redentor. Mas os Santos Pedro e Paulo brilham não só no céu de Roma, mas no coração de todos os que creem e que, iluminados pelos seus ensinamentos e exemplos, em cada parte do mundo, andam sobre o caminho da fé, da esperança e da caridade.
Neste caminho de salvação, a comunidade cristã, sustentada pela presença do Espírito do Deus vivo, sente-se encorajada a prosseguir forte e serena sobre a estrada da fidelidade a Cristo e do anúncio do Seu Evangelho aos homens de cada tempo.
Neste fecundo itinerário espiritual e missionário se coloca também a concessão do Pálio aos Arcebispos Metropolitanos que cumpri nesta manhã na Basílica. Um rito sempre eloquente que põe em destaque a íntima comunhão dos Pastores com o Sucessor de Pedro e o profundo vínculo que nos liga à tradição apostólica.
Trata-se de um duplo tesouro de santidade, no qual se fundam juntamente a unidade e a catolicidade da Igreja: um tesouro precioso a se redescobrir e se viver com renovado entusiasmo e constante empenho.
Queridos peregrinos, aqui reunidos de toda parte do mundo! Neste dia de festa, rezemos com a expressão da Liturgia oriental: "Louvados sejam Pedro e Paulo, essas duas grandes luzes da Igreja; eles brilham no firmamento da fé".
Neste clima, desejo direcionar um pensamento particular à delegação do Patriarcado de Constantinopla que, como todos os anos, veio fazer parte destas nossas celebrações tradicionais.
Que a Virgem Santa conduza todos os que creem em Cristo até a conquista da plena unidade!
Boletim da Santa Sé
(Tradução de Nicole Melhado - equipe CN Notícias)
Angelus
Praça de São Pedro, Vaticano
24 de junho de 2012
Hoje a Igreja do mundo inteiro celebra a santidade de vida de São Pedro e São Paulo apóstolos. Estes santos são considerados "os cabeças dos apóstolos" por terem sido os principais líderes da Igreja Cristã Primitiva, tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo missionários.
Pedro, que tinha como primeiro nome Simão, era natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Pescador, foi chamado pelo próprio Jesus e, deixando tudo, seguiu ao Mestre, estando presente nos momentos mais importantes da vida do Senhor, que lhe deu o nome de Pedro. Em princípio, fraco na fé, chegou a negar Jesus durante o processo que culminaria em Sua morte por crucifixão. O próprio Senhor o confirmou na fé após Sua ressurreição (da qual o apóstolo foi testemunha), tornando-o intrépido pregador do Evangelho através da descida do Espírito Santo de Deus, no Dia de Pentecostes, o que o tornou líder da primeira comunidade. Pregou no Dia de Pentecostes e selou seu apostolado com o próprio sangue, pois foi martirizado em uma das perseguições aos cristãos, sendo crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido, por não se julgar digno de morrer como seu Senhor, Jesus Cristo.
Escreveu duas Epístolas e, provavelmente, foi a fonte de informações para que São Marcos escrevesse seu Evangelho.
Paulo, cujo nome antes da conversão era Saulo ou Saul, era natural de Tarso. Recebeu educação esmerada "aos pés de Gamaliel", um dos grandes mestres da Lei na época. Tornou-se fariseu zeloso, a ponto de perseguir e aprisionar os cristãos, sendo responsável pela morte de muitos deles.
Converteu-se à fé cristã no caminho de Damasco, quando o próprio Senhor Ressuscitado lhe apareceu e o chamou para o apostolado. Recebeu o batismo do Espírito Santo e preparou-se para o ministério. Tornou-se um grande missionário e doutrinador, fundando muitas comunidades. De perseguidor passou a perseguido, sofreu muito pela fé e foi coroado com o martírio, sofrendo morte por decapitação.
Escreveu treze Epístolas e ficou conhecido como o "Apóstolo dos gentios".
Estamos diante da cultura hebraica, herdeira da antiga cultura mesopotâmica, a qual considerava como lepra diversas afecções da pele, inclusive bolores que se manifestavam em roupas e paredes.
A lei judaica exigia que a lepra fosse considerada uma doença de excomunhão. Eis o porquê, depois da constatação da cura, de o curado ter de se apresentar ao sacerdote para ser purificado.
É nesse contexto que Jesus cita, expressamente, não só a cura, mas a purificação dos leprosos.
Mais do que a própria doença, o leproso também sofria a exclusão social, porque era considerado religiosamente impuro e pecador. Quem o tocasse se tornaria também impuro. A reintegração dele, após sua cura, era feita diante do sacerdote, mediante ofertas, de maneira semelhante a outros ritos de sacrifício por faltas contra a Lei, que eram qualificadas de pecado.
Nos nossos dias, há muitos leprosos feitos pela sociedade exclusivista. Eles clamam pela cura, querem se aproximar de Jesus, mas a situação social e até mesmo familiar os impede de fazê-lo.
No texto de hoje, o homem se aproxima em vez de se afastar, pois a pureza de Jesus é tão profunda que não pode ser atingida pelo contato exterior. O leproso, num ato de humildade e abandono, confiante e em sinal de adoração, suplicando se ajoelha: “Senhor, eu sei que pode me curar se quiser”.
Jesus, estendendo a mão, toca-o e lhe diz: “Sim, eu quero. Você está curado”. As palavras do Senhor marcam a iniciativa de se passar por cima da interdição da lei, a qual proibia qualquer contato com um leproso.
Ele não hesita em tocá-lo, ciente de que, longe de ser contaminado pelo leproso, é Ele quem purificará o impuro por Seu simples contato. Não é, aliás, do exterior que vem a impureza, mas sim do interior do coração. Não se trata de uma simples cura, mas de compaixão.
Cristo, com Sua prática libertadora e vivificante, acolhe este homem que se prostra diante d’Ele, tocando-o, livrando-o da doença e da exclusão. A acolhida e a identificação com o excluído restituem-lhe a dignidade, integrando-o na comunidade.
A quem entregar todas nossas perturbações? Os discípulos de Jesus colocam n’Ele todas as suas preocupações, pois só Ele é capaz de aliviá-los de suas dificuldades, aflições ou doenças. A pergunta que nos fazemos é: “Buscamos o Senhor com fé e total confiança como este leproso do Evangelho?” Ele não duvidou: “Senhor, eu sei que pode me curar se quiser”.
Assim como ele encontrou a cura pela fé, você também será alvo da misericórdia de Deus. Não diga que tudo está perdido, porque o Senhor já não o escuta, não o ouve nem o atende. Onde você pode apresentar as suas feridas ou à Quem pode entregar a sua difícil situação?
Você que vive a segunda união e quer comungar, mas não pode por causa de sua situação de vida, a resposta para você é: “Só em Deus encontrará refúgio, só n’Ele encontrá a paz, porque Ele o ama, acolhe-o e abraça.
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Tendo Jesus descido do monte, numerosas multidões o seguiam. Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra. Então Jesus lhe disse: “Olha, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote, e faze a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho para eles”.
Por Papa Bento XVI
Tradução: Zenit
Fonte: Vaticano/Zenit
Queridos irmãos e irmãs:
Nossa atenção se concentra hoje em São Cirilo de Jerusalém. Sua vida representa o cruzamento de duas dimensões: por um lado, a atenção pastoral, e por outro, a participação, apesar dele, das acesas controvérsias que turbaram então a Igreja do Oriente.
Nascido em torno do ano 315, em Jerusalém ou perto dela, Cirilo recebeu uma ótima formação literária, que se converteu no fundamento de sua cultura eclesiástica, centrada no estudo da Bíblia. Ordenado presbítero pelo bispo Máximo, quando este morreu ou foi deposto, no ano 348, foi ordenado bispo por Acácio, influente metropolitano de Cesaréia da Palestina, filo-ariano, convencido de que era seu aliado. Por este motivo, deu-se a suspeita de que havia alcançado a nomeação episcopal após ter feito concessões ao arianismo.
Na realidade, rapidamente, Cirilo enfrentou Acácio não só no campo doutrinal, mas também no da jurisdição, pois Cirilo reivindicava a autonomia de sua própria sede com relação à do metropolitano de Cesaréia. Em cerca de vinte anos, Cirilo experimentou três exílios: o primeiro, no ano 357, após ter sido deposto por um Sínodo de Jerusalém; no ano 360, um segundo exílio provocado por Acácio e, por último, um terceiro, mais longo — durou onze anos –, no ano 367, por iniciativa do imperador filo-ariano Valente. Só em 378, depois da morte do imperador, Cirilo pôde voltar a tomar definitivamente posse de sua sede, restabelecendo entre os fiéis a unidade e a paz.
A favor de sua ortodoxia, posta em dúvida por algumas fontes da época, advogam outras fontes da mesma antiguidade. Entre elas, a mais autorizada é a carta sinodal do ano 382, depois do segundo Concilio ecumênico de Constantinopla (381), no qual Cirilo havia participado com um papel destacado. Nessa carta, enviada ao pontífice romano, os bispos orientais reconhecem oficialmente a mais absoluta ortodoxia de Cirilo, a legitimidade de sua ordenação episcopal e os méritos de seu serviço pastoral, ao qual a morte pôs ponto final no ano de 387.
Dele conservamos 24 famosas catequeses, que pronunciou como bispo por volta do ano 350. Introduzidas por uma «Procatequese» de acolhida, as primeiras 18 estão dirigidas aos catecúmenos ou «iluminados» («photizomenoi»). Foram pronunciadas na basílica do Santo Sepulcro. As primeiras (1-5) falam respectivamente das disposições prévias ao Batismo, da conversão dos costumes pagãos, do sacramento do Batismo, das dez verdades dogmáticas contidas no Credo ou Símbolo da fé.
As sucessivas (6-18) constituem uma «catequese contínua» sobre o Símbolo de Jerusalém, em chave antiariana. Entre as últimas cinco (19-23), chamadas «mistagógicas», as duas primeiras desenvolveram um comentário aos ritos do Batismo, as últimas três falam do crisma, do Corpo e do Sangue de Cristo e da liturgia eucarística. Incluem a explicação do Pai Nosso («Oratio dominica»), que apresenta um caminho de iniciação à oração, que se desenvolve paralelamente à iniciação aos três sacramentos, o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia.
O fundamento da educação na fé cristã se desenvolvia, em parte, em chave polêmica contra os pagãos, judeu-cristãos e adeptos do maniqueísmo. A argumentação se fundamentava na aplicação das promessas do Antigo Testamento, com uma linguagem cheia de imagens. A catequese era um momento importante, marcado no amplo contexto de toda a vida, em particular a litúrgica, da comunidade cristã, em cujo seio materno acontecia a gestação do futuro fiel, acompanhada pela oração e pelo testemunho dos irmãos.
Em seu conjunto, as homilias de Cirilo constituem uma catequese sistemática sobre o renascimento através do Batismo. Ao catecúmeno, ele diz: «Caíste nas redes da Igreja (cf. Mateus 13, 47): com vida serás colhido; não fujas; é Jesus quem te jogou a isca, e não para destinar-te a morte, mas para, entregando-te a ela, recobrar-te vivo: pois é necessário que tu morras e ressuscites (cf. Romanos 6, 11.14)… Morre aos pecados e vive para a justiça; fá-lo desde hoje» («Procatequese» 5).
Desde o ponto de vista doutrinal, Cirilo comenta o Símbolo de Jerusalém recorrendo à «tipologia» das Escrituras, em relação «sinfônica» entre os dois Testamentos, até chegar a Cristo, centro do universo. A tipologia será eficazmente descrita por Agostinho de Hipona: «O Novo Testamento está escondido no Antigo, enquanto o Antigo se torna manifesto no Novo» («De catechizandis rudibus» 4, 8).
A catequese moral está ancorada com uma profunda unidade na catequese doutrinal: faz que o dogma descenda progressivamente nas almas, que deste modo são alentadas a transformar os comportamentos pagãos na nova vida em Cristo, dom do Batismo.
Por último, a catequese mistagógica constituía a reunião da educação que Cirilo ministrava aos que já não eram catecúmenos, mas neobatizados ou neófitos durante a semana da Páscoa. Levava-os a descobrir, nos ritos batismais da Vigília pascal, os mistérios contidos neles e que ainda não lhes haviam sido desvelados. Iluminados por uma fé mais profunda graças ao Batismo, os neófitos eram capazes finalmente de compreendê-los melhor, ao ter celebrado os ritos.
Este texto explica o mistério do Batismo: «Fostes submersos três vezes na água, levantando-vos também três vezes. Também nisso significastes em imagem e simbolicamente a sepultura de Cristo por três dias. Pois, assim como nosso Salvador passou três dias e três noites no seio da terra (cf. Mateus 12, 40), também vós imitastes o primeiro dia que Cristo passou no sepulcro ao levantar-vos da água pela primeira vez e, com a imersão, a primeira noite, pois do mesmo modo que o que está na noite já não vê, e o que se move no dia caminha na luz, vós, ao submergir-vos, como na noite, deixastes de ver, mas, ao sair, fostes postos como no dia. No mesmo momento haveis morrido e haveis nascido, e aquela água chegou a ser para vós sepulcro e mãe… Para vós.. o tempo de morrer coincidiu com o tempo de nascer. E um tempo único conseguiu ambas coisas, pois com vossa morte coincidiu vosso nascimento» («Segunda Catequese Mistagógica», 4).
O mistério que é preciso assimilar é o plano de Deus, que se realiza através das ações salvíficas de Cristo na Igreja. Por sua vez, a dimensão mistagógica está acompanhada pela dos símbolos que expressam a vivência espiritual que fazem «explodir».
Deste modo, a catequese de Cirilo, em virtude dos três elementos descritos — doutrinal, moral e, por último, mistagógico — converte-se em uma catequese global no espírito. A dimensão mistagógica se converte em síntese das duas primeiras, orientando-as à celebração sacramental, na qual se realiza a salvação de todo o homem.
Trata-se, em definitivo, de uma catequese integral que implica o corpo, a alma e o espírito e continua sendo emblemática para a formação catequética dos cristãos de hoje.
A consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.
Neste dia, no qual celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, véspera da memória do Imaculado Coração de Maria, é muito oportuno falar da íntima relação que há entre estas festas da Igreja. Pois, compreender qual é esta ligação nos permitirá comemorar melhor essas e viver essas devoções com maior profundidade. Há muito tempo, nós católicos temos uma especial devoção pela Virgem Maria. Desde a era apostólica, os primeiros cristãos, que ainda nem eram chamados assim, tinham Nossa Senhora como Mãe, que intercede e confirma seus filhos na fé.
Porque nos consagrar ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração e Maria?
Não estou negando a necessidade de nos confiar ao Sagrado Coração de Jesus, devoção também dos primórdios da Igreja, oceano infinito da misericórdia de Deus. Precisamos nos consagrar totalmente ao Coração do Senhor. Isso é muitíssimo recomendado, mas essa consagração não exclui a consagração ao Imaculado Coração de Maria.
Muitas pessoas deixam de confiar-se a Maria dizendo que confiam em Jesus e que se consagram somente ao Seu Sagrado Coração. Mas, não receber Maria por Mãe e não consagrar-se ao seu Imaculado Coração é negar um pedido do próprio Cristo, que nos entregou Nossa Senhora: “Eis a tua mãe!” (Jo 19, 27). Um fato recente comprova este desejo de Jesus. Em diálogo com a Irmã Lúcia, no ano de 1936, Jesus pede que a devoção ao Imaculado Coração de Maria seja colocada ao lado da devoção ao Seu Sagrado Coração. O fato está documentado em uma carta, de 18 de Maio de 1936, ao seu diretor espiritual.
Em resposta a este pedido, em 31 de Outubro de 1942, o Papa Pio XII, através de radiomensagem aos portugueses, consagra a Igreja e todo o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria: “a Vós, ao vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana (Segunda Guerra Mundial), confiamos, entregamos, consagramos não só a Santa Igreja, corpo místico de vosso Jesus, que pena e sangra em tantas partes e por tantos modos atribulada, mas também todo o mundo, dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em incêndios de ódio, vítima de sua próprias iniquidades”.
Pio XII diz que, da mesma forma que a Igreja e toda a humanidade foram consagradas ao Coração de Jesus, sejam também perpetuamente consagrados a Maria e ao seu Coração Imaculado. Sejam consagrados ao Imaculado Coração de Maria para que o amor e o patrocínio da Virgem apresse o triunfo do Reino de Deus, e todas as gerações a proclamem bem-aventurada. Com a Virgem Maria, todos os homens entoem o “eterno Magnificat de glória, amor, reconhecimento ao Coração de Jesus, onde só podem encontrar a Verdade, a Vida e a Paz”.
O Papa João Paulo II, em Fátima, no dia 13 de Maio de 1982, fez uma oração renovando esta consagração feita por Pio XII, com estas palavras: “Este mundo dos homens e das nações também eu o tenho diante dos olhos, hoje, no momento em que desejo renovar a entrega e a consagração feita pelo meu Predecessor na Sé de Pedro: o mundo do Segundo Milênio que está prestes a terminar, o mundo contemporâneo, o nosso mundo de hoje!”
Depois de conhecer a estreita ligação entre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a do Imaculado Coração de Maria, não podemos ficar indiferentes. O Papa Pio XII, sucessor de Pedro, consagrou a nós, Igreja Católica, e todo o gênero humano ao Imaculado Coração. Anteriormente, já estávamos consagrados, pela Igreja, ao Sagrado Coração de Jesus. Mas, para que aqueles que não fizeram a sua consagração pessoal, fica o convite para conhecer e fazer a consagração segundo o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem“, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Pois, nos consagrando a Maria, ao seu Imaculado Coração, nos consagramos totalmente ao Sagrado Coração de Jesus.
No exemplo destes homens aprendemos a amar a Cristo
Celebramos, no dia 29 de junho, a Solenidade de São Pedro e São Paulo, duas colunas da Igreja, dois homens de Deus. São Pedro nasceu em Betsaida, cidade da Galileia. Conheceu Jesus por meio de seu irmão André. O Senhor, "fixando nele o olhar" (Jo 1,42), o chamou para segui-Lo. Jesus Cristo conquistou São Pedro pelo olhar cheio de carinho.
Aquele olhar do Mestre devia ser arrebatador, convincente e encerrava a radicalidade de entrega a Deus de maneira bem atraente. Simão é chamado Cefas, pedra, Pedro. De simples pescador, converteu-se num pescador de homens. Foi o vigário de Cristo na Terra, aquele que fez as vezes do Senhor aqui quando Ele já não estava entre os Seus em corpo mortal.
Jesus quis instituir a Sua Igreja tendo Pedro à frente dela, e isso para sempre. Daí que o ministério petrino foi perpetuado: Pedro, Lino, Cleto, Clemente, Evaristo, Alexandre, Sisto, Telésforo, Higino, Pio, Aniceto, Sotero, Eleutério, Vitor…. Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI: 266 papas, 265 sucessores de São Pedro.
Uma realidade maravilhosa! Professemos entusiasmados a nossa fé nesta Igreja, que é “una, santa, católica e apostólica, edificada por Jesus Cristo, sociedade visível instituída com órgãos hierárquicos e comunidade espiritual simultaneamente (…); fundada sobre os apóstolos e transmitindo, de geração em geração, a Sua Palavra sempre viva e os Seus poderes de Pastores no sucessor de Pedro e nos bispos em comunhão com Ele; perpetuamente assistida pelo Espírito Santo” (Paulo VI, Credo do Povo de Deus).
As palavras de São Jerônimo (+420) são taxativas: “Não sigo nenhum primado a não ser o de Cristo; por isso ponho-me em comunhão com a Sua Santidade, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja. Quem se alimenta do Cordeiro fora dessa casa é um ímpio. Quem não está na arca de Noé perecerá no dia do dilúvio” (Carta ao Papa Damaso, 2).
Observe: a Igreja é qual outra arca de Noé. Pedro está à sua frente. Atualmente, é Bento XVI quem governa essa grande barca. Perigoso é ficar fora dela em tempos de dilúvios!
Há tempestades nos tempos atuais? Deixarei a resposta para os que me lerem. Contudo, preocupa-me tanto o fato de que o homem fique eclipsado diante de si mesmo; até parece que se afoga nas próprias concepções em torno da vida, da pessoa humana, da sexualidade e de tantos outros temas. Onde está o seu norte? Para onde se encaminha?
Escutar a voz do Pedro dos nossos tempos e não deixar-se sufocar pelas novidades que obscurecem a nossa fé em Deus e esfriam o nosso amor a Ele é algo muito sábio. Não! Nem todas as novidades colocam em perigo a nossa fé e o nosso amor. Frequentemente, o mais perigoso é a atitude diante delas. Não podemos ser orgulhosos, aprendamos da nossa mãe, a Igreja, aprendamos de quem Jesus colocou à frente dessa grande família de filhos de Deus, o Papa, e tenhamos atitudes de acordo com o Evangelho.
Que dizer de São Paulo? Ele foi um homem que, na pregação do Evangelho, colocou todas as suas potencialidades a serviço de Deus. Um homem totalmente entregue às coisas do Senhor. De perseguidor de cristãos, tornou-se um dos cristãos mais fervorosos, homem inflamado de zelo apostólico. Como não identificar, por detrás dessas frases, um homem magnânimo e cheio do amor de Deus?
“Estou pregado à cruz de Cristo” (Gl 2,19). “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,14).
Nos exorta: “não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas ideias frívolas. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à prática apaixonada de toda espécie de impureza” (Ef 17-19). “Contanto que de todas as maneiras, por pretexto ou por verdade, Cristo seja anunciado, nisto não só me alegro, mas sempre me alegrarei” (Fl 1,18). Em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2,3). “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2 Tim 4,7).
É preciso que também nós sejamos apóstolos enamorados, apaixonados por Deus e que façamos o nosso apostolado sempre em unidade com o Papa, sucessor de Pedro, e com todos os bispos em comunhão com ele.
Digamos, como um homem de Deus do século XX, São Josemaria Escrivá: “Venero, com todas as minhas forças, Roma de Pedro e de Paulo, banhada pelo sangue dos mártires, centro de onde saíram tantos para propagar, no mundo inteiro, a Palavra salvadora de Cristo. Ser romano não entranha nenhuma amostra de particularismo, mas de ecumenismo autêntico; supõe o desejo de aumentar o coração, de abri-lo a todos com as ânsias redentoras de Cristo, que busca e acolhe a todos, porque os amou por primeiro. (…)
O amor ao Romano Pontífice há de ser em nós uma bela paixão, porque nele vemos Cristo”.
O quadro pertence aos íconos da Virgem Maria denominados “Virgem da Paixão“. O fundo em ouro é símbolo do Paraíso, onde a Virgem triunfa. Maria, ligeiramente inclinada para o Menino, em atitude tema, olha para os fiéis, oferecendo-lhes o Socorro, o Seu Filho. Na fronte de Maria, sobre o véu brilha a estrela de Belém: Ela leva-nos a Jesus. À direita de Maria, o Arcanjo S. Miguel mostra a lança e a esponja da Paixão de Cristo; à sua esquerda, o Arcanjo S. Rafael mostra a cruz de 3 braços, à maneira da Europa Oriental; o Menino Jesus, assustado à vista dos instrumentos da Sua futura Paixão, corre para o colo da Mãe, enlaçando as mãozinhas na sua mão direita.
No fundo do quadro aparecem várias abreviaturas gregas: de ambos os lados da cabeça de MAria: “Mãe de Deus“; à sua direita: “O Arcanjo Miguel“; à sua esquerda: “O Arcanjo Rafael“; e ao lado do menino Jesus: “Jesus Cristo”.
“Como o Menino Jesus que admiramos no venerando quadro, também nós queremos apertar a vossa mão direita. Não vos faltam nem poder nem bondade para nos socorrer.
Senhor, dá-me esperteza para reconhecer a falsidade de quem, com palavras aliciadoras, me afastam de ti e do teu Reino. Livra-me de suas ações perniciosas, que me colocam na contramão de ti. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, teu Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Cirilo nasceu no ano de 370, no Egito. Era sobrinho de Teófilo, bispo de Alexandria, e substituiu o tio na importante diocese do Oriente de 412 até 444, quando faleceu aos setenta e quatro anos de idade.
Foram trinta e dois anos de episcopado, durante os quais exerceu forte liderança na Igreja, devido à rara associação de um acurado e profundo conhecimento teológico e de uma humildade e simplicidade próprias do pastor de almas. Deixou muitos escritos e firmou a posição da Igreja no Oriente. Primeiro, resolveu o problema com os judeus que habitavam a cidade: ou deixavam de atacar a religião católica ou deviam mudar-se da cidade. Depois, foi fechando as igrejas onde não se professava o verdadeiro cristianismo.
Mas sua grande obra foi mesmo a defesa do dogma de Maria, como a Mãe de Deus. Ele se opôs e combateu Nestório, patriarca de Constantinopla, que professava ser Maria apenas a mãe do homem Jesus e não de Um que é Deus, da Santíssima Trindade, como está no Evangelho. Por esse erro de pregação, Cirilo escreveu ao papa Celestino, o qual organizou vários sínodos e concílios, onde o tema foi exaustivamente discutido. Em todos, esse papa se fez representar por Cirilo.
O mais importante deles talvez tenha sido o Concilio de Éfeso, em 431, no qual se concluiu o assunto com a condenação dos erros de Nestório e a proclamação da maternidade divina de Nossa Senhora. Além, é claro, de considerar hereges os bispos que não aceitavam a santidade de Maria.
Logo em seguida, todos eles, ainda liderados por Nestório, que continuaram pregando a tal heresia, foram excomungados. Contudo as idéias "nestorianas" ainda tiveram seguidores, até pouco tempo atrás, no Oriente. Somente nos tempos modernos elas deixaram de existir e todos acabaram voltando para o seio da Igreja Católica e para os braços de sua eterna rainha: Maria, a Santíssima Mãe de Deus.
Cultuado na mesma data por toda a Igreja Católica, do Oriente e do Ocidente, são Cirilo de Alexandria, célebre Padre da Igreja, bispo e confessor, recebeu o título de doutor da Igreja treze séculos após sua morte, durante o pontificado do papa Leão XIII.
Conteúdo enviado pelo internauta Rodrigo Stankevicz
Amigo fiel é escudo, guardião de nossa alma.
O Autor Sagrado eleva o amigo a um nível altíssimo quando lhe atribui o epíteto de tesouro. A Palavra de Deus diz: “Amigo fiel é poderosa proteção; que o encontrou, encontrou um tesouro” (Eclo 6,14). Interessante que o termo “tesouro” deriva do latim thesaurus, que significa também “armazenamento” ou “repositório”. Assim sendo, amigo de verdade é aquele que serve de repositório, lugar onde armazenamos nossa confiança, nossos sentimentos e afetos, até mesmo nossa própria vida. Não à toa, a Bíblia assemelha a amizade a um tesouro, pois não é fácil encontrar uma riqueza; do mesmo modo, um amigo, embora, vivamos na era da comunicação.
Nunca na história se ouviu notícias de tantos relacionamentos oriundos dos meios de comunicação, proporcionados pela técnica atual. Novas amizades são feitas a todo instante no mundo inteiro através das redes sociais, chats e sites de relacionamento. Apesar disso, a solidão é crescente no meio urbano.
De um ponto de vista ocorreu uma evolução célere, neste sentido, com a globalização. Entretanto, os laços de amizades sofrem cada vez mais em qualidade. O Escritor Sagrado não nos fala desse tipo de amizade, todavia, não podemos descartá-la, pois já é uma realidade vivenciada pelas novas gerações e, talvez no amanhã, venha a ser uma regra.
Nossas amizades devem ser bem selecionadas. Bijuterias podem até enganar, mas um dia perdem seu brilho efêmero, diferente dos tesouros e das joias raras que nunca perdem sua beleza. Com efeito, os tesouros nos enriquecem, então, isso serve como um excelente termômetro para medir nossos relacionamentos. Será que essa amizade está nos enriquecendo, fazendo de nós pessoas melhores e enobrecendo nossa vida?
Caso o amigo seja fiel, entenderá o que, já na antiguidade clássica, Aristóteles dizia: “entre a amizade e a verdade, eu prefiro a verdade”. Intuímos, pois, que a verdade liberta, e o amigo sincero sabe disso. Ele fala coisas desagradáveis a nosso ver, em nossa frente, enquanto o inimigo fala-a por trás. Contudo, seu ombro será um refúgio, suas palavras acalento para alma e sua presença um bálsamo. Porém, quando oportuno, a correção virá, nos corrigirá baseado na confiança depositada em sua pessoa. Daí provém nossa proteção neste escudo protetor da amizade que vela por nossa alma.
Este guardião possui o dom de nos acolher da maneira que somos; ele não espera que sejamos perfeitos, mas tão somente amigo. Conhece nossas fraquezas e limitações, mesmo assim abriga-nos sem preconceitos, ou seja, com o amigo podemos pensar em voz alta e continuar a tê-lo. O tempo lapidará o ouro da amizade e somente ele poderá dizer se nossa amizade é um tesouro enriquecedor ou uma bijuteria ornada com aparência bela; porém, imbuída de uma falsidade que nos deixa vulneráveis.
Os conteúdos da oração, como os de todo diálogo de amor, podem ser múltiplos e variados. Cabe, no entanto, destacar alguns especialmente significativos:
É frequente a referência à oração impetratória ao longo de toda a Sagrada Escritura; também nos lábios de Jesus, que nos convida a pedir, encarecendo o valor e a importância de uma prece singela e confiada. A tradição cristã reiterou esse convite, pondo-a em prática de muitas maneiras: petição de perdão, petição pela própria salvação e pela dos demais, petição pela Igreja e pelo apostolado, petição pelas mais variadas necessidades, etc.
De fato, a oração de petição faz parte da experiência religiosa universal. O reconhecimento, ainda que em ocasiões difusas da realidade de Deus (ou mais genericamente de um ser superior), provoca a tendência a dirigir-se a Ele, solicitando Sua proteção e Sua ajuda. Certamente, a oração não se esgota na prece, mas a petição é manifestação decisiva da oração, assim como reconhecimento e expressão da condição criada do ser humano e de sua dependência absoluta de um Deus cujo amor a fé nos dá conhecer de maneira plena (cf. Catecismo, 2629.2635).
Ação de graças
O reconhecimento dos bens recebidos e, através deles, da magnificência e misericórdia divinas, impulsiona a dirigir o espírito a Deus para proclamar e lhe agradecer seus benefícios. A atitude de ação de graças, cheia desde o princípio até o fim a Sagrada Escritura e a história da espiritualidade. Uma e outra põem de manifesto que, quando essa atitude arraiga na alma, dá lugar a um processo que leva a reconhecer como dom divino todos os acontecimentos, não somente aquelas realidades que a experiência imediata acredita como gratificantes, mas também as aparentemente negativas ou adversas.
Consciente de que o acontecer está situado sob o desígnio amoroso de Deus, o fiel sabe que tudo redunda no bem de quem – a cada homem – é objeto do amor divino (cf. Rm 8,28). São José Maria Escrivá ensina que: “Habitua-te a elevar o coração a Deus em ação de graças muitas vezes ao dia. - Porque te dá isto e aquilo. - Porque te desprezaram. - Porque não tens o que precisas, ou porque o tens. Porque fez tão formosa a sua Mãe, que é também tua Mãe. - Porque criou o Sol e a Lua e este animal e aquela planta. - Porque fez aquele homem eloqüente e a ti te fez difícil de palavra... Dá-Lhe graças por tudo, porque tudo é bom.”
Adoração e louvor
É parte essencial da oração reconhecer e proclamar a grandeza de Deus, a plenitude de seu ser, a infinitude de sua bondade e de seu amor. Ao louvor pode-se desembocar a partir da consideração da beleza e magnitude do universo, como acontece em múltiplos textos bíblicos (cf., por exemplo, Sal 19; Se 42, 15-25; Dn 3, 32-90) e em numerosas orações da tradição cristã; ou a partir das obras grandes e maravilhosas que Deus opera na história da salvação, como ocorre no Magnificat (Lc 1, 46-55) ou nos grandes hinos paulinos (ver, por exemplo, Ef 1, 3-14); ou de fatos pequenos e inclusive miúdos nos que se manifesta o amor de Deus.
Em todo caso, o que caracteriza o louvor é que nele o olhar vai diretamente a Deus mesmo, tal e como é em si, em sua perfeição ilimitada e infinita. O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo que Ele é. (Catecismo, 2639).
Está, por isso, intimamente unida à adoração, ao reconhecimento, não só intelectual, mas existencial, da pequenez de tudo criado em comparação com o Criador e, em consequência, à humildade, à aceitação da pessoa indignada ante quem nos transcende até o infinito; à maravilha que causa o fato de que esse Deus, ao que os anjos e o universo inteiro rendem homenagem, dignou-se não só a fixar seu olhar no homem, mas habitá-lo; mais ainda, a se encarnar.
Adoração, louvor, petição e ação de graças resumem as disposições de fundo, que informam a totalidade do diálogo entre o homem e Deus. Seja qual for o conteúdo concreto da oração, quem reza o faz sempre, de uma forma ou de outra, explícita ou implicitamente, adorando, louvando, suplicando, implorando ou dando graças a esse Deus ao qual reverencia, ao qual ama e no qual confia. Importa reiterar, ao mesmo tempo, que os conteúdos concretos da oração poderão ser muito variados.
Em ocasiões se irá à oração para considerar passagens da Escritura, para aprofundar em alguma verdade cristã, para reviver a vida de Cristo, para sentir a proximidade de Santa Maria. Em outras, iniciará a partir da própria vida para participar a Deus das alegrias e os afãs, das ilusões e dos problemas que o existir comporta; ou para encontrar apoio e consolo; ou para examinar ante Deus o próprio comportamento e chegar a propósitos e decisões; ou, mais singelamente, para comentar com quem sabemos que nos ama as incidências da jornada.
Encontro entre o que crê e Deus em quem se apoia e pelo que se sabe amado, a oração pode versar sobre a totalidade das incidências que conformam o existir e sobre a totalidade dos sentimentos que pode experimentar o coração. Escreveste-me: “Orar é falar com Deus. Mas de quê?” - De quê? D'Ele e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias, fraquezas; e ações de graças e pedidos; e amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te - ganhar intimidade!”, ensinou São José Maria Escrivá.
Seguindo uma e outra via, a oração será sempre um encontro íntimo e filial entre o homem e Deus, que fomentará o sentido da proximidade divina e conduzirá a viver a cada dia da existência de cara a Deus.
Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja Explicação do Sermão da Montanha, c. 24, §§ 80-81 «Pelos seus frutos os conhecereis»
Perguntamo-nos quais os frutos para os quais o Senhor quer chamar a nossa atenção para reconhecermos a árvore. Alguns consideram como frutos a roupagem das ovelhas e assim os lobos podem enganá-los. Quero referir-me a jejuns, orações, esmolas e todas as obras que podem ser feitas por hipócritas. Caso contrário, Jesus não teria dito: «Guardai-vos de fazer as vossas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles» (Mt 6,1). [...] Muitos dão aos pobres por ostentação e não por generosidade; muitos que rezam, ou melhor, que parecem rezar, não procuram Deus, mas sim a estima dos homens; muitos jejuam e exibem austeridade notável para atrair a admiração dos que vêem a sua conduta. Todas essas obras são enganos. [...] O Senhor conclui que esses frutos não são suficientes para julgar a árvore. As mesmas acções feitas com uma intenção recta e verdadeira são a roupagem das autênticas ovelhas. [...]
O apóstolo Paulo diz-nos quais os frutos pelos quais reconheceremos a árvore ruim: «É fácil reconhecer as obras da carne: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, discórdias, sectarismos, rivalidades, embriaguez, orgias e coisas semelhantes» (Gal 5,19-20). O mesmo apóstolo nos diz a seguir quais os frutos para reconhecer uma boa árvore: «Mas os frutos do Espírito são: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e autocontrolo» (v. 22-23).
É preciso saber que a palavra «alegria» é usada aqui no seu sentido literal; os homens maus em sentido literal ignoram a alegria, mas conhecem o prazer. [...] Este é o sentido próprio desta palavra que só os bons conhecem; «não há alegria para os ímpios, diz o Senhor» (Is. 48,22). Acontece o mesmo com a fé verdadeira. As virtudes enumeradas podem ser fingidas por maus e impostores, mas não enganam o olho puro e simples capaz de discernimento.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
“Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má, produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons. Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo. Portanto, pelos seus frutos vós os conhecereis”.
— Ensinai-me a viver vossos preceitos; quero guardá-los fielmente até o fim!
— Dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei, e de todo o coração a guardarei.
— Guiai meus passos no caminho que traçastes, pois só nele encontrarei felicidade.
— Inclinai meu coração às vossas leis, e nunca ao dinheiro e à avareza.
— Desviai o meu olhar das coisas vãs, dai-me a vida pelos vossos mandamentos!
— Como anseio pelos vossos mandamentos! Dai-me a vida, ó Senhor, porque sois justo!
Creio em Ti, meu Deus e criador, única fonte da minha vida. Crio na Tua misericórdia em me perdoar e em me acolher sempre como filho(a).
JESUS CRISTO,
Creio em Ti, nascido da Virgem Maria, que me faz descobrir o amor de Deus Pai por mim e que, pelo Teu grande amor, morreste numa cruz para nos salvar. Creio em Ti, Jesus Eucarístico, que deixaste o Teu Corpo e o Teu Sangue para alimentar a minha vida.
ESPÍRITO SANTO,
Creio que procedes do Pai e do Filho, que estás em mim, que ages em mim com os Teus dons. Ó Pai, Te peço pela força do Teu Santo Espírito que eu seja catequista, construtor do Teu Reino e, com um coração simples possa contemplar a anunciar o Mistério da Encarnação e louvar sempre a Trindade Santa.
Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo, desde agora e para sempre, ao Deus que é, que era e que vem pelos séculos.